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Imagem: Getty Images
Simpatia? Entenda por que jacarés não atacam e se alimentam de capivaras
Um dos animais mais simpáticos e icônicos da América do Sul, as capivaras não são alvo nem mesmo dos répteis predadores
Por Alessan Silva
03 de Dezembro de 2025 às 06:40
Considerada uma das espécies mais carismáticas do Brasil e de toda a América do Sul, a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) se destaca pela sua notável adaptabilidade, que permite sua presença tanto em áreas urbanas modificadas pelo homem quanto em ambientes naturais preservados.
A personalidade pacífica desse grande roedor — o maior do mundo — o leva a migrar, junto de sua numerosa família, para lagos, canais e parques urbanos quando seu habitat natural é ameaçado.
Um fenômeno intrigante que atrai a atenção de turistas e biólogos ocorre nessas áreas úmidas: capivaras repousando tranquilamente próximas a jacarés, predadores temidos dessas águas.
A bióloga Elizabeth Congdon, professora na Universidade Bethune-Cookman, na Flórida, relata ter observado essa cena inusitada na Venezuela. O fato de um roedor tão apetitoso ser ignorado por um réptil carnívoro levanta questões sobre a dinâmica dessa interação.
Autopreservação? Em diálogo com o portal IFLScience, Congdon explica que é incomum encontrar jacarés caçando capivaras em estado selvagem. Para ela, essa aparente cordialidade não é fruto de amizade; trata-se de um instinto de autopreservação por parte dos jacarés.
Embora as capivaras aparentem ser dóceis, quando encurraladas podem se mostrar extremamente defensivas. Seus grandes dentes incisivos são capazes de causar ferimentos severos e sua robustez torna o ataque um risco elevado para os predadores.
A escolha dos jacarés por não atacar as capivaras em favor de presas mais acessíveis evidencia um princípio fundamental da seleção natural: otimização do esforço. A predação envolve não apenas força física, mas também uma economia inteligente de energia.
Entretanto, é importante salientar que essa convivência não se configura como simbiose ou amizade entre as espécies. Os riscos ainda existem para as capivaras, principalmente para os filhotes. A aparente tolerância dos jacarés é fortemente influenciada pela disponibilidade de alimentos na região.
Isso implica que, caso outras fontes alimentares se tornem escassas, as capivaras podem passar a ser consideradas uma opção viável pelos jacarés. Além disso, essa dinâmica pacífica pode variar dependendo da espécie crocodiliana envolvida (jacarés, crocodilos ou gaviais) e das características do habitat específico, repercute a CNN Brasil.
No intrincado processo da seleção natural, as interações animais vão além da simples dicotomia “comer ou ser comido”. O comportamento animal muitas vezes se assemelha a uma partida de xadrez, onde o custo-benefício de um ataque é meticulosamente avaliado. No caso das capivaras, sua anatomia — especialmente os dentes afiados — não apenas serve para a alimentação, mas também atua como um eficaz mecanismo de defesa. Essa combinação aumenta suas chances de sobreviver tranquilamente mesmo em meio à presença dos seus predadores naturais.