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Imagem: deepblue4you via Getty Images
Uva-passa na ceia: vilã ou estrela do Natal brasileiro? Chefs explicam
Experts revelam por que a uva-passa divide opiniões e segue como símbolo afetivo — e polêmico — das festas de fim de ano
Por Alessan Silva
17 de Dezembro de 2025 às 06:54
Todo mês de dezembro, ela reaparece sem pedir licença. Basta surgir na farofa, no arroz ou no salpicão para reacender um dos debates mais tradicionais da ceia brasileira: afinal, a uva-passa é um erro gastronômico ou parte essencial do Natal? Entre amores e rejeições declaradas, o pequeno fruto segue ocupando lugar de destaque — ainda que involuntário — nas mesas do país.
Para o chef e professor de gastronomia Sinval Espírito Santo, do Centro Universitário UniBH, a explicação para tanta controvérsia está no paladar cultural. Segundo ele, o brasileiro — especialmente em estados como Minas Gerais — não tem o hábito de misturar sabores doces e salgados no dia a dia. “Em culinárias como a mineira, esse contraste é exceção. Quando frutas secas entram em pratos cotidianos, como arroz, farofa ou salada de batata, o estranhamento é quase automático”, explica.
O professor destaca que o gosto não é construído de forma individual, mas social. As referências familiares, as memórias afetivas e até certos preconceitos culinários moldam a aceitação de ingredientes considerados “fora do padrão”. Em regiões com forte influência árabe ou sírio-libanesa, por exemplo, o uso de frutas secas em pratos salgados é mais natural — o que ajuda a explicar por que, em algumas mesas, a uva-passa é vista como tradição, e não como intrusa.
Mesmo quem não aprecia o ingrediente acaba reconhecendo seu valor simbólico. “Eu não gosto de uva-passa no arroz ou no salpicão, mas acho que ela representa o Natal. Está associada à ideia de fartura, celebração e comida festiva, ainda que muita gente vá separar cada uma com o garfo”, admite Sinval.
Para evitar divisões na ceia, a especialista sugere soluções diplomáticas: servir a uva-passa à parte, em forma de molho ou chutney, ou usá-la de maneira discreta, bem picada e incorporada ao preparo. “E é fundamental oferecer sempre uma opção sem passas. Assim, ninguém se sente excluído”, reforça.
No fim das contas, a uva-passa talvez não seja nem vilã nem estrela, mas um reflexo das tradições, memórias e afetos que moldam o paladar brasileiro. Enquanto houver ceia de Natal, haverá debate. E, como lembram os professores, talvez seja justamente essa polêmica anual que faça da pequena fruta um dos maiores símbolos da data.